Linda Rojas

E o lado financeiro do tratamento?

O diagnóstico chegou como um soco no estomago sem aviso prévio e isso, claro, impactou muita coisa na nossa vida.

Além da saúde e a questão emocional, me vi tendo que equilibrar as finanças que muitas vezes nem tinha para dar sequência ao meu tratamento.

Quando entrei no consultório do médico e entendi o quão renomado ele era, entre uma informação e outra eu só pensava como pagaríamos aquela consulta e o restante dos meus cuidados. Lembro que minha mãe estava com dinheiro vivo enrolado numa folha de caderno pois, do seu salário, havia separado aquela parte para o aluguel. Pagamos com muito prazer já que saímos daquela sala entendendo perfeitamente do que se tratava minha doença e quais seriam os próximos passos e ter acesso àquela clareza foi imprescindível para criar forças para o que vinha pela frente.

Esse médico me ajudou muito e ajuda até hoje. Me direcionou para um hospital público onde fiz todo o meu primeiro tratamento e fui muito bem atendida. Lá encontrei profissionais generosos, mas também uma falta de estrutura que logo me afetaria. Quando acabei as quimios “vermelhas” e estava esperançosa pelo começo das “brancas”, fui informada que o medicamento estava em falta. Fiquei muito desesperada pensando em como pagaria o restante do tratamento.

Chorei copiosamente pelos corredores e fiquei indignada com o sistema. Não era uma aspirina que faltava, mas sim o remédio que continuaria me dando vida.

Por sorte, como se Deus ouvisse a minha súplica, um residente me encontrou e me trouxe boas notícias. No meu caso e tipo de tumor que havia tido, existia uma outra opção com o mesmo resultado. Então, passei a fazer quimios em intervalos menores, semanais, antes eram de 21 e 21 dias. Ainda assim, quando terminei a sessão fui para o térreo do prédio e ali fiquei a tarde toda, mesmo passando mal, até que alguém da ouvidoria me atendesse. Eu tive uma solução, porém tinha visto a pilha de prontuários que ficariam na espera do remédio.

Hospital Clementino Fraga Filho

Tudo isso, querendo ou não, me afetou muito. Estava enfrentando o maior desafio da minha vida e ainda assim preocupada com outros fatores. Por exemplo, quando me deslocava até o hospital, precisava de pelo menos R$ 100,00 para o táxi de ida e volta. Ir de ônibus era uma opção bem pior e a mistura do meu enjoo com o transporte cheio e demorado só me deixavam mais mareada e me fazia sentir mais fraca e doente.

Lembro perfeitamente disso, numa lembrança que me vem à cabeça, quando minha cabeça batia no vidro da janela e o sol quente aceleravam meu mal-estar, mas por sorte estava sonolenta demais pelos antialérgicos.

Sem falar nas horas de espera no andar da oncologia e logo aguardando a quimio descer, gota a gota o que, claro, nos dava fome e sede. Tínhamos que separar mais um pouco de dinheiro.

No segundo diagnóstico as coisas já estavam melhores e o meu plano de saúde, feito pela minha sogra, já conseguiria me dar acesso a melhores condições. Nunca deixei os meus médicos do hospital, que eram diretores de suas áreas. Continuei com eles, de forma particular, e sou muito grata porque no momento de pagar a cirurgia (sim, precisamos pagar pois o plano nos reembolsaria apenas uma parte, depois de 30 dias), todos eles baixaram seus honorários e me prestaram todo suporte. Ainda assim tive ajuda da família, principalmente a do Caio que, logo, se colocaram à disposição para reunir todo o valor.

Podia continuar citando aqui muitos momentos de “perrengues”, mas saibam que apesar de tudo guardo a gratidão da ajuda e o otimismo que levo de tudo isso.

Ativei estas lembranças a pedido de vocês para falar sobre a questão do dinheiro. Mas foi incrível reviver tudo isso e pensar que ainda assim passei por tudo como uma grande mulher, forte e corajosa. Só me deu mais orgulho da minha história e da de vocês.

Ps: sei que, infelizmente, muitas pessoas ainda driblam desafios maiores ainda. Por isso peço para nos engajarmos cada vez mais como pacientes e quero lembrar que nossa voz é de extrema importância dentro das políticas públicas. 😊

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4 Comentários

  • Elaine

    Vc é uma pessoa mais que especial… sempre ajudando a nós que passamos por tudo isso… tenho imensa administração por vc e pelo seu trabalho… gratidão pela vida 😊

    • Linda Rojas

      Oi, Elaine. Fico muito feliz que você encontre aqui tudo isso que o seu coração identifica.
      Faço com muito amor, muita verdade e respeito 🙂
      Beijos na sua alma e gratidão também pela sua vida e sua mensagem que alegrou meu dia.

  • Eleneide

    Bom dia linda 💟. Me identifiquei com sua história totalmente. Acrescentaria a questão da alimentação. No Instagram a ostentação dos naturais caríssimos, as pessoas dizendo que arroz e feijão, carne, frangos, alimentava o câncer. E aí, o pobre morre, o desespero toma conta. Então vamos orar, pedir a direção de Deus. E diante disso, comia o que meu organismo aceitava e o que dava para comprar. Comi muito feijão preto com salada de tomate e couve, polenta com pé de frango, e etc… Graças a Deus nunca tive problemas com a imunidade, mas creia, foi Pank kkkk. Hoje continuo com a mesma alimentação, claro diminuindo carboidratos e açúcares, mas sigo bem fazendo agora radioterapia.
    Um grande abraço. Você é linda. Jesus te ama muito 💙

    • Linda Rojas

      Eleneide, minha imunidade também, nunca caiu. Comia normalmente, porém com mais frutas e verduras que eu adoro.
      Logo passei para uma nutricionista que soube equilibrar muito bem o que eu gostava e o que eu precisava. Não há nada melhor do que ouvir quem é preparado para nos dar esse tipo de direcionamento. Temos realmente que ter muito cuidado com as informações no Instagram.
      Vamos vivendo 🙂

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