Chorar o câncer…
Nesse final de ano fiquei um pouco sensível e não foi necessariamente pelas festas e a virada de um novo ciclo. Comecei antes disso, a me sentir emotiva demais.
Como se alguém tivesse aberto uma porteira que há tempos estava fechada. As lágrimas pareceram se sentir livres de uma vez por todas e se apaixonaram pelo mundo exterior, além dos olhos. Gostaram de acariciar minha face, de umedecer meu olhar e aliviar algo aqui dentro.
Juro, podia estar vendo uma série, que uma cena qualquer me dava vontade de chorar. Algumas outras vezes o choro continha um pouco de dor e tristeza. Comecei a relembrar algumas fases no meu tratamento e chorava desconsolada por não acreditar que vivi tudo aquilo. É porque olhando para trás, a gente não entende como tivemos força. Foi tanta coisa.
Faz pouco mais de três anos que estou em remissão e ainda abro gavetas na minha alma para liberar dores acumuladas e tristezas ocultas. Acho isso natural, saudável e se pararmos para analisar, não faz tanto tempo assim que vivi uma recidiva do câncer.
Além disso, existem outros motivos. Não sei a partir de que momento, mas comecei a me angustiar pelo futuro. Agora veja só, estava olhando para o que já passou e me afligindo pelo que ainda não vivi e no presente, estava produzindo lágrimas.
Eu faço análise, tenho uma psicóloga há quase o mesmo tempo que estou em remissão, estou sendo acompanhada e gostaria que todos pudessem compartilhar da sabedoria profissional de uma boa terapia. Isso já me ajuda, mas a gente precisa querer se ajudar e absorver o entendimento que está sendo passado.
Legal botar para fora, acho que é a alma se curando, mas o cuidado envolve muito mais que isso.
Reagir é uma boa e estou nessa fase de criar um movimento além do que já passou e do que vou viver, quero estruturar planos e sonhos para o presente. É bem difícil, vou te falar, porque a mente insiste em ir para outros lugares, o que desperta emoções e mais lágrimas e tem uma hora que sinto que já esvaziei muitas gavetas.
Está na hora de enche-las de esperança, amor e vida, se não, corro o risco de deixar tudo vazio.
Despertar para isso é meio caminho andado e antes mesmo do ano virar, já tinha tomado a maior resolução dos últimos tempos: me manter vívida e empolgada para minhas muitas possibilidades!!
Acredite em mim, nós temos MUITAS possibilidades para ser feliz e eu decido ser feliz AGORA, não amanhã 😉
