Linda Rojas

Segurando o choro

Eu estava sentada esperando pela minha última quimioterapia, no meu primeiro diagnóstico.
A espera às vezes era longa, pois o remédio vinha de outro andar onde era manipulado pela farmácia do hospital público que me tratei.

Os bancos eram de madeira e no espaço estreito mal cabia meu quadril inteiro. Para passar o tempo reparava nas pessoas que circulavam ali, com seus gorros, perucas e carecas. Logo iria embora e só voltaria para consultas de acompanhamento, mas só depois de alguns meses. Aquilo me fazia olhar com mais atenção para cada detalhe que tinha no meu campo de visão.

Senti meus olhos ficando úmidos e lembrei que minha mãe estava ao meu lado. Sequei discretamente as lágrimas e tratei de segurar aquele turbilhão de coisas que estava sentindo, não queria que minha mãe me visse chorar e que ficasse triste, mesmo que a emoção fosse de felicidade.

Patricia Rojas, minha mãe

 

Quando me chamaram, entrei na sala de quimioterapia e logo reconheci alguns rostos naquelas poltronas, já que fazíamos o mesmo ciclo há pelo menos 6 meses. Apesar de já familiarizada, estava atenta de uma maneira diferente. Queria registrar tudo na minha mente e não perder nenhum detalhe desse dia que se tornaria uma lembrança futura.

Com o acesso já colocado, as últimas gotas de quimioterapia deslizavam pelo tubo e entravam no meu corpo que tão resiliente tinha aceitado a convivência por tanto tempo. As lágrimas voltaram a encher o contorno dos meus olhos e embora minha mãe estivesse do lado de fora me esperando, novamente não permiti que elas caíssem. Desta vez não queria que os meus colegas de sala me vissem em prantos porque sabia que se deixasse, o choro trasbordaria e não queria atrapalhar o tratamento deles.

Tendo acabado, abracei todos que tanto me acolheram, me despedi e em seguida encontrei minha mãe do lado de fora que estava de braços abertos me esperando. Nos emocionamos muito e agradecemos a enorme graça de ter acabado a parte mais difícil do meu tratamento. Mas ainda assim aquele choro que tanto almejava, aquele choro que estava guardando, não saiu. Não aqui, pensei.

Chegando em casa, deitei e logo os efeitos vieram. Chorei e desabei entre um enjoo e outro, entre o mal estar e aqueles sentimentos intensos de ter finalizado o maior desafio da minha vida. Liberei o choro da vitória, o choro da conquista, o choro de ter recebido uma grande bênção e um grande alívio.

Hoje, me reconectando com essa lembrança vejo como estou diferente.

No meu segundo tratamento, ao finalizar minhas quimioterapias, chorei em todos os momentos. Desde que cheguei à clínica, sem me importar de quem estivesse vendo. Chorei com minha mãe, com o Caio. Ao sair, com as enfermeiras, no carro de volta liguei para muuuuitas pessoas e chorei com todas elas.

Chorei nos stories, quando contei no meu insta sobre aquele momento.

Choro agora só de lembrar…

Porque não tenho mais tempo a perder e deixar uma emoção desse tamanho para depois é uma negligência com o meu coração e minha alma que já não permito mais.

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