Linda Rojas

Quarto de hospital

Quando me internei num domingo fui preparada com minha mala de mão e nela alguns livros, uma bíblia, um pijama azul quentinho que a avó do Caio tinha me dado e coragem, muita coragem.

Fiz a papelada junto a minha família e logo fui encaminhada para o quarto que seria compartilhado com mais 5 pacientes. Andando naqueles corredores o hospital parecia tão grande, pouco cuidado, mas as pessoas que encontrei ali foram pessoas sábias, de fé e cheias de amor.

Fiquei numa cama perto da janela. Estávamos no inverno e, apesar de estarmos no Rio de Janeiro, fazia muito frio. Minha mãe logo deixou minha cama o mais aconchegante possível, com a colcha e travesseiro que havíamos levado.

Eles tiveram que ir embora ao anoitecer e eu logo pusera meu pijama azul de plush e deitei o mais aquecida que pude.
Ao meu lado uma senhora rezava alto e às vezes entoava algum cântico evangélico que me trazia paz. Ao outro lado, perto da porta, uma jovem loira com um sorriso enorme era muito gentil e oferecia o que tivesse de “passa tempo” para nos distrair também. Perguntava se queríamos usar seu laptop ou comer um pedaço de biscoito. Gostei dela logo de cara.

Ainda uso meu pijama "fofinho"
Ainda uso meu pijama “fofinho”

Naquela noite recebi em meu celular muitas mensagens e ligações de pessoas queridas. Sabia que no dia seguinte teria que ser preparada para a cirurgia às 6 da manhã e então tratei logo de dormir.

Fechei os olhos e orei. Orei por mim, pelos médicos que fazem um trabalho maravilhoso, orei para que minha mãe recebesse paz naquela noite, mas também orei pelas minhas companheiras de quarto. Pedi cura, saúde e uma vida mais leve pra cada uma delas.

Pensei em suas famílias e me perguntei de como seriam suas vidas, quais seriam suas histórias e, sem perceber, adormeci.

Conhecê-las foi umas das bênçãos que tive, pois encontrei pessoas especiais, solidárias e que faziam daquele quarto um lugar um pouco mais humanizado e confortável do que ele realmente era.

Nos dias seguintes, quando os médicos residentes vinham me ver e trocar meu curativo, aquela moça loira de sorriso largo sempre se aproximava e vinha conversar comigo. A Franciane, como se chamava, me dizia que a cirurgia tinha ficado ótima e que a cicatriz parecia estar bem fina.

Deitada, eu não conseguia visualizar direito, então confiava em seus olhos e suas palavras.

A Fran, também estava ali para uma cirurgia por um câncer de mama e por isto acabamos nos aproximando mais, nós e nossas famílias.

Não importa onde você esteja, por menor que sejam as estruturas naquele momento trate de fazer dali um lugar acolhedor (por mais difícil que isso pareça).

Quando tenho que voltar lá para minhas consultas de rotina ou simplesmente quando passo em frente, olho pra esse hospital enorme e sempre me pego sorrindo. Podia lembrar de momentos tristes ou de todo o processo que passei, mas de alguma forma é como se ele me abençoasse.

É um hospital grande, com dificuldades estruturais e pouco bonito, mas de alguma forma ele me acolheu. Foi ali que me curei, como não lembrar e sorrir?

 

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Um comentário

  • Veronica rojas

    Leía tu ventana hoy y es como viajar contigo en ese pasaje de tu vida , deje mis lagrimas rodar lindita porque me puedo imaginar tus sentimientos de miedo e insertidumbre en esos momentos tu mama tu papa tu hermano , Caio ,en fin todos los que estuvieron ahí es dejar a alguien que amamos en un limbo … Tal vez llorar hoy no sirve mijita pero mi corazón siente con tus palabras tantas cosas … Hoy quiero llamarlos. Héroes a todos ustedes que vivieron en carne propia todo lo que vi vistes y nada mas que pedir a Dios que nunca mas sean puestos en tan grande prueba .❤️

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