Linda Rojas

Um ato de desespero

Quando passei pelo segundo tratamento e voltei da primeira quimio, estava super na expectativa dela ter sintomas mais brandos do que em 2012. Apesar de fazer protocolos com quimios vermelhas e brancas de novo, a medicação deveria ser diferente. Nada podia ser repetido.

Isso ocorre pelo fato que de alguma forma o tratamento anterior só deu resultado até certo ponto, nos primeiros 5 anos, senão a doença não teria voltado. Então agora era tudo diferente, parecia igual, mas era diferente.

Mas o que realmente interessa era que voltei pra casa e nitidamente estava mais cinza e fraca, porém nada de ânsias de vomito ainda. Isso devia ser comemorado, significava que de alguma forma não sofreria o martírio da vez passada.

No segundo dia, ainda fraca, quis fazer uma surpresa para o Caio. Coloquei um hobby de renda branco, lindo e sexy, e fui procurar ele, ainda durante o dia. Comecei a provocá-lo, mas no fundo me sentia péssima e doente.

Ele de imediato respondeu às minhas investidas e ainda com mal estar me esforcei e fizemos amor.

Hoje lembro disso e me acho boba.

Eu não estava me sentindo nem um pouco bem, mas passei por cima disso sabe se lá o porquê. Consigo agora me dar algumas respostas e são várias, mas ainda não sei qual é a certa.

Por mais que me analise não sei se fiz isso para eliminar aquela sensação de doença e querer voltar a “ser uma pessoa normal”, ou simplesmente não queria me ver definhando e me sentir viva como mulher, podia ser também uma insegurança, já que podia ter achado que o Caio estava cansado passando de novo por aquela situação comigo.

Todos estávamos cansados!

Mas até hoje sinto que fui desleal comigo mesma por ter transado com meu marido no segundo dia pós-quimio.

Sinto que deveria ter me respeitado e me dado um tempo, sinto que me forcei àquilo e essa é a grande questão. Estaria tudo bem se tivesse morrendo de vontade, ou simplesmente estivesse a fim.

Mas a única coisa que queria era estar encolhida na minha cama tratando de adormecer, já que dormindo a minha realidade não era de alguém doente e aqueles sintomas ficavam mais amenos.

Demorei para parar de me cobrar por algo que ninguém teve culpa, eu apenas estava tendo um instinto de sobrevivência, um instinto humano, um instinto de vida.

O Caio, foi carinhoso, como sempre e ainda mais delicado naquele dia, mas ele não poderia sequer suspeitar que tinha me esforçado muito para isso. Fui convincente demais e, como disse, no fim acabou sendo gostoso.

Tenho certeza que isso me ajudou naquele momento, mas hoje, com mais clareza, ficaria aconchegada entre minhas cobertas tratando de respeitar o meu ciclo quimioterápico acabar. O desespero, muitas vezes faz a gente se desrespeitar e minha atitude com certeza foi um ato notório da minha aflição.

É difícil chegar a essa conclusão quando os sentimentos são tantos e tão dolorosos que te confundem, mas se você parar, respirar e se enxergar, vai entender que existem momentos para tudo na vida, e se for preciso virar cinzas uma semana para depois você reviver, que assim seja.

Ps: o mal estar da quimio, no meu caso, durava 4 ou 5 dias, era só ter esperado 😉

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