Linda Rojas

Efeito anestesia

Depois de tudo sinto que estou acordando, ainda estou em movimento e aos poucos começo a assimilar as luzes passando no alto, tento abrir os olhos, não tenho domínio sobre eles, mas ainda assim alguns feixes de luz passam a barreira de minhas pálpebras. Parece um corredor, isso mesmo, estou voltando!

Tento me mexer, mas não consigo. Ai! Sinto meus seios arderem, é melhor mesmo não me movimentar. Ouço as rodinhas da cama que me transporta e fico feliz que elas estejam girando. Não vejo a hora de ver a minha família.

Rapidamente, mas ainda assim com muito esforço, consigo entre abrir os olhos e vejo que ainda não cheguei ao meu quarto, mas alguns rostos aparecem e fico feliz de reconhecê-los, são as pessoas que mais amo em toda minha vida. Sorrio.

Eba! Consegui enviar esse comando ao meu corpo e percebo meus lábios se esticando. Os meus olhos redondos e grandes também já estão conseguindo se manter abertos e procuro de novo aquelas carinhas me observando. Estão felizes de me ver, mas posso sentir que estão preocupados. Preciso falar que estou bem. Mas a voz não sai. Vou tentar de novo, mas só consigo me ouvir na minha própria mente. Nenhum efeito sonoro, apesar das diversas tentativas.

Logo, lembrei dos meus lábios, aqueles que há pouco haviam esboçado um sorriso. Eles podiam me ouvir… Então me concentrei bastante e enviei o comando, torcendo para que fosse o certo. Quando vi que todos sorriam e se abraçavam, soube que havia dado certo. Eu estava mandando beijos e quanto mais conseguia mais estalos ouvia, beijos e mais beijos que para mim significavam um recado: eu estou bem! Fiquem tranquilos, eu estou bem!

Assim que me passaram para a cama do quarto, o Caio puxou uma cadeira e não desgrudou mais do meu lado, enquanto meus familiares se abraçavam e me olhavam orgulhosos, já que havia ficado na sala cirúrgica por 8 horas. Também pudera, com um planejamento estratégico, onde a equipe do Doutor Augusto Rocha, meu mastologista, entrou primeiro e fez a mastectomia bilateral e em seguida a equipe do Doutor Diogo Franco, meu cirurgião plástico, fez com toda perfeição a reconstrução com músculo e pele dorsal e a colocação das próteses, exigia o máximo deles e de mim, mas foi um sucesso absoluto. Os médicos comemoravam levantando os braços e isso deu o resto de paz que todos precisávamos.

Lentamente os efeitos da anestesia vão passando e vou recobrando cor, as palavras saem com mais facilidade e consigo perceber o tanto de horas que passei lutando por minha saúde, ainda que desacordada. Cada ente querido, notoriamente com os ombros mais leves, me contam como foi a espera e dá pra ver nos seus olhos o quão felizes estão por eu ter me livrado daquele segundo e último câncer.

Quanto a mim? Suspeito que os beijos que enviava, foram distribuídos pelo universo e a minha graça também.

Agora, depois de quase 2 anos dessa memória que acabo de colocar no “papel”, vejo o quanto fui forte e como aquela corrente de amor contribuiu para minha recuperação.

Aproveito e coloco um o link aqui do vídeo do meu cirurgião plástico aqui, tirando algumas dúvidas e explicando um pouco do meu procedimento 😉

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