Linda Rojas

A Sombra do Câncer

Ainda quando um ciclo muda, não significa que o anterior é apagado completamente. Até porque tudo o que vivemos faz parte integralmente da nossa evolução. Quando digo que passamos para outra etapa, quero dizer, que estamos prontos para desatar o que estava nos prendendo e, soltos, podemos sonhar e continuar a nossa jornada.

Os sonhos começam a chegar timidamente até que você sente que realmente a doença não esta mais ali para atrapalhar, que mais uma vez você tem uma vida nova, zerada, para aproveitar cada segundo e reconhecer cada momento de felicidade que esta sendo oferecido. Aqueles momentos que sempre faço questão de prestar atenção, aqueles que geralmente passariam despercebidos.

Gostaria de dizer aqui, que junto a um novo ciclo, as magoas, dores e medos do período passado vão completamente embora. Mas infelizmente não, ainda esta muito cedo, já somos sortudos demais por alcançar a “virada de chave” que vem depois da cura. Mas confesso que ainda resta uma sombra. Me dei conta que ela ainda existia, uma semana depois de ter voltada de férias. De um momento a outro comecei a viver sentimentos antagônicos, um de muita realização e felicidade que comentei no texto anterior e outro, de muito terror e sofrimento, os dois muito intensos e imaginem só como fica o nosso emocional, assim, totalmente bagunçado.

O motivo dessa desordem ocorreu por uma pequena grande coisa. Sabe, aquele detalhe que cresce e pode mudar tudo!? Começou assim, tão pequeno que eu quase nem liguei, ainda estava no Chile sendo feliz e não me sobrava tempo para dar atenção àquela petite dor na coluna. Que provavelmente devia estar ali, por estar dormindo num colchão diferente ou por ter me aventurado a andar a cavalo, coisa que gosto muito. Mas já em solo nacional, no conforto do meu lar e ainda com alguns dias livres, aquela dor nas costas começou a importunar minha mente. Foi aí, que com as mão comecei a identificar onde era o ponto exato. Uma vértebra! Aquela próxima ao fecho do sutiã, quase na altura do peito, só que, claro, lá trás. Uma sirene mental começou a tocar em minha cabeça desde esse momento, só que o som, parecia dizer: câncer, câncer, câncer…
Aí, fiz o que todos faríamos logo de cara, perguntar ao senhor Google, e a sirene começou mais alto: câncer, câncer, câncer… Nessa altura já estava aterrorizada e foi aí que fiz o que deveria ter feito antes de mais nada. Liguei para o meu médico!

Doutor Augusto estava se preparando para uma cirurgia, mas fez algumas perguntar sobre os sintomas, tipo de dor e local. Em meio a soluços e lágrimas de desespero ia traduzindo o que sentia. Tratou de me acalmar como só ele consegue fazer, mas a sombra da suspeita já havia tomado conta de mim. Combinamos de nos encontrar na manhã seguinte em seu consultório, para ele me examinar e me dar os pedidos para exames. Tínhamos que investigar!

O mundo, parecia ter parado, e só conseguia chorar e sentir aquele aperto horrível no peito, aquele sentimento ruim e o sofrimento que já conhecia, aquele que tanto me dava pavor. Aí, pedi ajuda para minha terapeuta, liguei pra ela e expliquei como pude os acontecimentos. Isso não podia estar acontecendo, rezei para que fosse um pesadelo, mas eu sabia que não era. Contei a ela os meus medos e desesperada falei sobre essa dor que estava sentindo, essa sensação horrorosa que ela sabiamente identificou: “Linda, isso aí dentro é angustia”.
Já com o pedido em mãos, fiz o exame, o que deve render outro texto, pois passei mal. As coisas estavam cinzas, minha fé parecia estar fraca. Na minha mente, enquanto o dia do resultado não chegava, já começava a planejar minha vida caso a doença tivesse voltado, agora num novo local. Daria tudo para que ninguém jamais tivesse que passar por isso. Pensei que nem a pior pessoa desse mundo mereceria aquela angustia. Pensei em todos vocês e nos desafios que só vocês sabem que passam e desejei como nunca ter algum poder para amenizar a dor dos aflitos. Amenizar a minha dor. A nossa!

Rezei da forma mais sincera, confessei estar fraca e sem esperança, mas disse a Ele que apesar de tudo eu tinha amor, e esse sentimento estava mais forte do que nunca. Amo tanto meu marido, meus familiares, amigos, amo tanto a vida, a Ele, a mim… me sinto tão amada pelos mesmo, que pedia que esse amor chegasse até Ele e me ajudasse.
Numa segunda feira, meu telefone tocou e pude ver no visor o nome do doutor Augusto, atendi e tentei resgatar o pouco de fé que sabia que tinha. Jamais vou esquecer as lagrimas rolando e o fato de que em 1 minuto minha vida podia voltar ao pesadelo que já tinha deixado pra trás.

Hoje, duas semanas depois, posso dizer a vocês que me emociono a cada dia, quando percebo que aquele terror saiu da minha cabeça e aquele sentimento horroroso que estava no meu peito não está mais lá. A angustia foi embora e me sinto tão leve que poderia voar. Sei que preciso me fortalecer mais, e estou cuidando disso. Mas também sei que não será fácil, que isso pode acontecer de novo e provavelmente vai, sei também que isso apesar de ruim é normal, pois passamos por um trauma grande, é importante falar sobre isso por que não somos de ferro. Os medos vão sendo superados aos poucos e temos uns aos outros para nos fortalecer. Eu pedi ajuda! E vou continuar sendo ajudada e tratando de ajudar, sei que é uma missão e isso faz tudo fazer sentido.

A dorzinha na vértebra? Quase gosto dela, porque me faz lembrar que não estou mais doente. Que venci o câncer e ele NUNCA mais terá espaço no meu corpo, pois confio em Deus e Ele me devolveu a esperança. Tenho algumas indicações médicas, mas farei com gosto, pois o que é uma pequena hérnia perto de tudo o que passamos?!

A emoção de saber que a sombra foi embora!

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7 Comentários

  • Catarina

    Passei exatamente por isso! Aquela dorzinha nas costas, que a gente acha ser colchão, travesseiro…e depois percebe q não e nada disso! Câncer! Infelizmente o meu foi uma metástase…e aquela sombra ficou! Mas nada que umas boas doses de quimio não possam resolver! Sua luta e nossa luta! Te admiro demais!!!

    • Linda Rojas

      Isso Catarina, esses sentimentos só nós sabemos. Muita força, que já vi que vc tem e fé, a quimio é nossa maior aliada e essas gotinhas são bênçãos. Você me inspirou hj!! obrigada pelo carinho!

  • Paula Edila Botelho Barbosa

    Seu texto me emociona e realmente descreve os nossos sentimentos. Tenho tentado trabalhar só no positivo e de ajudar outras pessoas. Ainda estou em processo de reconstrução e sigo com muita fé! Tenho certeza que a cada dia superamos essa sombra e logo, ela estará só no nosso passado. Um grande abraço! @curandocancer

    • Linda Rojas

      Obrigada Paula, mas vocês me emocionam a cada dia. Sempre digo que a mente comanda o corpo, acho importante acreditarmos sempre no melhor, mas acredito que seja normal tb ficarmos chateados. Mas a maior parte do tempo, temos que ter esperança e sorrir, isso ajuda muito. Um lindo dia e boa recuperação, logo tudo acaba!!

  • Dani Silva

    sei que não é fácil pensar na possibilidade da volta da doença. Mas, da forma que narrou, penso que vc desconheça o qto existem pacientes vivendo absolutamente bem com metástase… Talvez até vivendo mais que a maioria das pacientes que simplesmente não desencanam. Nem tudo é câncer. E se for, a vida continua, como continuou pra tanta gente. Esse é o aprendizado. Apenas viva. Bj

    • Linda Rojas

      Oi Dani, conheço muitas pessoas que vivem com metástase, inclusive bem próximas, e sei que o sorriso é constante em seus rostos, sou muito inspirada por elas. Mas narro aqui a minha história da forma mais verdadeira que posso e vou reagindo a cada episódio de acordo com o cenário que aparece. Sou uma amante da vida e sei que em qualquer situação lutaria com unhas e dentes para viver bem e feliz, como tenho feito até agora, mas isso não quer dizer que não veja o lado negativo do câncer e ter medo por não querer viver com ele é normal, o contrário é utopia, pelo menos pra mim 😉 Mas também sou aprendiz nessa vida, um beijo grande 🙂

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