Mãe

A vida muitas vezes nos surpreende das mais diversas formas. Achamos que estamos preparados para alguma situação e aí no nada surge algo fora do esperado.
Sempre fui muito bem preparada para a vida. Absorvi valores da mulher que é um símbolo de honestidade e bondade e juntas passamos por momentos que jamais imaginaríamos.

Essa mulher me alimentava de pão e também de sabedoria, me sustentou numa época de muita dificuldade e ela recém separada, encarou os mais variados trabalhos para criar seus dois filhos e, ainda assim, sempre foi agregadora. Fez o papel de mãe de seus sobrinhos e com certeza é admirada por eles, assim como é por mim e pelo meu irmão. Podíamos não ter algumas coisas, mas jamais faltou amor, para ela dar amor é fácil. Ela é a essência desse sentimento.
Quando descobri que estava doente, ali no consultório do doutor Jorge, enquanto mil coisas se passavam em minha mente, olhava para ela frágil e agradeci por aquilo estar acontecendo comigo e não com ela. Não suportaria ver ninguém que amo passando pelos momentos que passei. Mesmo com isso, fiquei triste por ter causado dor a eles e de terem que passar por todo esse período comigo. Muitas das vezes queria ter me afastado para eles não precisassem conviver com o câncer, mas era besteira! Seria irresponsabilidade e até egoísmo, visto que rejeitaria o amor deles. Jamais teria vencido sem ajuda.
Eles foram minha equipe e fizeram questão de estar ao meu lado, da mesma maneira como eu faria questão de estar ao lado deles se fosse o contrário.

Para falar a verdade, um discurso diário que tinha era: não tenho motivos para estar triste, estou rodeada de amor.
Era verdade. Tinha tudo o que precisava para enfrentar essa batalha. Deus foi muito bom em me entregar as armas para finalmente vencer. Além de tudo, sentia que quem estava no comando não era eu, era a própria vida.
Minha mãe sempre diz que sente muito por ter ficado tão frágil nesse período e que não conseguiu me dar o suporte necessário, que na verdade era eu quem a animava.
Ela não percebe que quem tinha me preparado para estar forte, prática e confiante era ela, ao longo de minha vida. Graças aos valores que me ensinou pude perceber que tirar o seio não seria o fim do mundo, pude olhar para minha doença como um projeto e friamente analisar todos as etapas que precisava completar para que tudo finalmente acabasse. Fiz isso inconscientemente, pois da forma como me ensinou fez que a força estivesse intrínseca em mim.
Sei que tive sorte, pois o nódulo apesar de grande, veio sem força e que existem uma porção de fatores para se curar da doença ou não. Acredito que tudo tem um porquê na vida e independente de ser vitoriosa ou não, tudo é um aprendizado, seja para mim ou alguém ao meu redor. Além de tudo que aprendi, minha missão hoje é compartilhar a minha história.

Sigo em acompanhamento médico e confesso que qualquer sintoma anormal que tenho, acende uma luzinha de atenção dentro de mim e na minha família. Qualquer exame que preciso fazer é um pouco tenso, difícil e nos faz voltar a um tempo não tão bom. Mas tendo alguém que você ama do seu lado, faz tudo ficar mais fácil.

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