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Força na Peruca | Doe
Quando o cabelo começa a cair, é pra mim, a fase que mais estamos mergulhadas na doença e tratamento. Sempre digo que é nesse momento que você parece estar humilhada pelo câncer, pois ele parece esfregar na sua cara a sua fragilidade. A queda dos fios durante o banho, ou aquele chumaço que não levanta junto com você da cama e fica por lá mesmo no travesseiro, ou aqueles fios que cismam em ficar pendurados na sua roupa, são lembranças diárias de que você não está no controle. Geralmente a gente se acostuma a estar no controle. A decisão final sempre é nossa, e aí sem mais nem menos, gostaria de fazer uma magia para que os cabelos não se desprendessem mais de sua cabeça, pois eles parecem se empenhar em fugir desse corpo intoxicado de quimioterapia, como num ato de rebeldia. Logo, as pessoas começam aquele papo-furado que “cabelo não importa”, que “cabelo cresce”. Mas nesse momento ele importa sim. Não por vaidade, mas pelo motivo da perda. Ficar careca LEIA MAIS [...] -
Mundo Invertido
Quando a gente tem o diagnóstico, automaticamente você entra num mundo paralelo e sempre foi muito difícil conseguir explicar essa experiência. Porque quando começo a falar dela, claramente se abre essa lembrança na minha mente e consigo ver exatamente o cenário. Aí, queria que vocês entrassem na minha cabeça e entendessem essa parte da história, assim, como um filme. Você sai do consultório e sem mais nem menos o mundo está totalmente diferente. Começa a andar e provavelmente vai pra casa, você só quer ir pra casa, para liberar todas as emoções sem olhares pelo caminho. Olhando a cidade e ruas que conhece, repara que tudo parece estar em câmera lenta, o ar fica denso e de tão denso parece que tem cor. Aí, embora seja dia, tudo parece desbotado, não cinza, mas desbotado. Apático. Você pensa em tudo em que está passando e sem querer seu olhar para em algumas pessoas e tenta imaginar como elas com certeza não têm ideia do que você está vivendo. Elas estão LEIA MAIS [...] -
Oi Próteses :)
Hoje sinto que elas se entenderam com meu corpo, pois estão redondinhas, lisinhas e do tamanho perfeito. Mas não foi sempre assim. Quando saí da cirurgia 2.0 e voltei da anestesia, ainda vendada, sentia que meus seios iriam estourar, pois estavam doloridos, inchados e quentes. A sensação era como se somente meu peito estivesse com febre alta. Quando a equipe da cirurgia plástica chega, geralmente no dia seguinte, para abrir o curativo e limpar, você finalmente pode ser ver ainda que não seja em formato definitivo, já que o inchaço modifica a forma, mero detalhe, pois os seios estão ali, como se fossem meus de verdade e como se nada tivesse sido retirado. Uma cicatriz ali, outra aqui, mas que com a expertise do Doutor Diogo Franco, parecia apenas alguma obra de arte de algum artista contemporâneo minimalista. Sem falar no enxerto de pele e músculo dorsal que cuidadosamente foram encaixados, como um quebra-cabeças perfeito no seio direito. Sobre as costas? Outro traço que LEIA MAIS [...]