Ficando careca – Parte I
Após os sintomas mais agressivos da quimio irem passando, notei que alguns fios continuavam no travesseiro ao levantar. Quando penteava o cabelo uma quantidade grande ficava na escova. Na medida que os dias avançavam eles se multiplicavam, eu me mexia e eles escorregavam para o chão, de repente a casa precisava ser varrida constantemente. Almoçar era desconfortável porque eles voavam para dentro do prato, então optei por corta-los chanel.
Fui sozinha, busquei um salão caro e expliquei meu problema ao cabeleireiro. Ele ficou um pouco nervoso e com pena. Na hora de lavar comentou que, de fato, eles estavam caindo muito. Fiquei uma semana aproveitando meu novo corte quando decidi acompanhar o Caio numa festa, ele é produtor de eventos e organizava nesse dia uma grande festa. Precisava encontrar com ele lá, então fui tomar banho, pois já havia separado minha roupa nova para colocar.
Entrei na ducha e fechei os olhos por um longo tempo, passei shampoo e novamente deixei a água escorrer no meu rosto. Fiquei assim durante alguns minutos e logo comecei a sentir algo deslizando pelo meu corpo. Descia pelas costas, pela barriga e assustada, abri os olhos para entender o que era aquilo.
Reparei uma mancha preta que descia pela minha perna e logo pousava no chão, quando notei que em volta dos meus pés estava rodeada deles. Meus cabelos que deveriam estar lá no alto agora estavam ali, se preparando para sumir pelo ralo.
Nem me dei conta que estava gritando, chamando pela minha mãe e as lágrimas se misturavam às gotas do banho. Ela entrou no banheiro muito apavorada e abriu o box. Não precisei falar nada, pois a cena explicava tudo. Ela me tirou dali e me envolveu numa toalha macia.
Sentei na cama e logo o choque passou. Eu sabia que iria acontecer, estava esperando por isso, não entendi porque tive aquela reação. Hoje, com o cenário mais claro, compreendo perfeitamente.
Quando os cabelos foram secando e ganharam mais volume, disfarçou o buraco que havia do lado esquerdo. Pensei em desistir de sair, olhei para a roupa nova, cobri o rosto com um pouco de maquiagem e joguei o topete para o lado oposto. Estava linda!
Chegando no evento falei com todos os meus amigos que nem se deram conta. Abracei o Caio e no seu ouvido contei o que havia acontecido horas antes. Ele me beijou, me olhou com seu rosto terno e disse que no dia seguinte iríamos raspar, assim evitaria passar por aquela situação de novo.
Dancei muito, me diverti, ri junto a todos, mas lá no fundo, em alguns momentos, viajava para dentro de mim. Olhava para todos aqueles rostos conhecidos e, por mais que soubessem que estava doente, não faziam ideia o que eu estava vivendo. Eu estava diferente. Já havia me tornado outra…
Continuação no próximo post segunda 17.10
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2 Comentários
Carolina Buginga
Emocionada de verdade com tudo que li agora, sério!
Admito que nunca tinha parado para ler o blog de vocês e devo dizer que estão de parabéns. Os posts são tão detalhados que me senti presente em todos os momentos e fiquei imaginando o que faria em cada situação e a sensação que eu teria EM CADA UMA DELAS, se essa era a intenção de vocês então alcançaram perfeitamente.
Parabéns Linda e Caio, essa janela é mesmo linda!
Grande beijo.
Linda Rojas
Buginga, obrigada pelas palavras… adoramos ouvir (ler) a opinião de vcs 🙂