Um relato sobre a recidiva
Você começa dividida em dois, uma parte de você fica incrédula esperando o momento que alguém vem te acordar ou um acontecimento bíblico acontecer mudando todo o rumo do que está prestes começar: um novo tratamento, uma nova cirurgia, um novo mergulho no mais profundo da sua existência.
Por outro lado a realidade vai ficando cada vez mais aparente e esse mix é uma combinação angustiante.
Só você sente essa dor aí dentro e por mais que muitas pessoas queridas queiram, não conseguem te ajudar da única maneira que você gostaria nesse momento: dizendo que tudo isso não passa de um erro, que você não vai precisar conviver com a doença de novo, que tudo isso não passa de uma mentira, uma brincadeira de mau gosto.
Depois dessa primeira fase, vem a cara feia, choro, tristeza e a briga com o universo: “não acredito que você foi capaz de fazer isso comigo”.
Ficar chateada parece uma palavra pequena e pouco forte para descrever, na verdade você fica com raiva.
“É sério isso!?”, você pergunta para o nada, esperando que o vento ganhe uma voz ecoante e te responda essa pergunta afrontosa.
Mas é no silêncio que você ouve a resposta: “sim, é sério!”
Sem mais detalhes, depois dessa resposta vaga que você nem sabe se realmente teve, começa a se revigorar, num ímpeto de “não vou levar esse desaforo pra casa”, “vou lutar mais uma vez”.
E é aí onde tudo começa a ficar mais fácil. Peraí, não é exatamente fácil, mas é nessa hora que pelo menos você aperta o start e a vida começa a caminhar. As etapas começam a acontecer e já familiarizada com toda a rotina médica, você começa a fazer a única coisa que poderia fazer nesse momento: REAGIR!
“Tá vendo, tô conseguindo!” você diz para si mesma até um pouco esnobe, mas de repente a dor fica aguda novamente. Mais um mergulho, mais choro, mais decepção. Nessa hora você não percebe que é justamente aí que está sendo quebrantada. Moldada de novo, está sendo reconstruída.
E quanto mais dentro você chega, mais consegue se achar. Achar o lado bom, achar os motivos que te fazem querer viver e voltar a sorrir e voltar a brilhar com a mais bela e pura liberdade que a saúde pode proporcionar.
Solta sentimentos, emoções, velhos hábitos e parece que desta vez você eliminou mais um pouco da “velha eu” e aprimora o ser humano que vive em você.
Isso aí…você vive!
Respira, abre os olhos e pronto. Passou. Acabou. Doeu, doeu muito, mas acabou.
2 Comentários
Evorah
Nossa Linda, como vc transmite todos os sentimentos de uma forma única. Como te disse, no segundo tratamento passamos por mais sentimentos, emoções … que pensávamos que não existisse ou que acreditávamos que nunca passaríamos.
Vc já pensou em escrever um livro?!
Beijinhos
Linda Rojas
Quero muito escrever um livro, é meu sonho!!
Seria maravilhoso compartilhar tantas emoções e que se isso de alguma forma ajudar os outros, serei extremamente feliz.