Minha escrivaninha
Escrever tem sido na maioria das vezes delicioso. É libertador!
Acredito muito na “cura pela fala” e sei que quanto mais “falar”, mais estará me curando e curando outras pessoas. Abrir a janela faz outras pessoas abrirem as suas.
Sempre que leio um livro, imagino qual o cenário do escritor, na maioria das vezes romantizo tudo e imagino uma janela bonita, com uma vista arborizada e uma escrivaninha. Uma linda escrivaninha. Um silêncio acolhedor e um clima gostoso.
Quando comecei a projetar o blog e pensar em alguns textos, logo vi que minha rotina seria outra. Primeiro porque, claro, a escrita não seria para um formato de livro e também por ter outras responsabilidades. Nessa época trabalhava no centro do Rio de Janeiro e sempre usava como meio de transporte o metrô.
Colocava o fone de ouvido, rezava e pedia inspiração. Algumas vezes em pé e outras por sorte, podia ir sentada, as palavras começavam a surgir. Num caderno? No laptop? Nenhuma das alternativas. Os textos em sua maioria são escritos no bloco de notas do celular.
Ainda com o fone e uma boa música, precisava interromper a inspiração, pois minha estação havia chegado. Continuava andando, com aquela história na cabeça e ao mesmo tempo observando as pessoas e o mundo ao meu redor. Estruturava o restante do texto na minha mente para seguir no horário de almoço ou na volta para casa. Mas não deixava de observar o meu entorno, a música continuava tocando nos meus ouvidos e as pessoas indo e vindo, o comércio aberto e me sentia como assistindo a um filme, em alguma cena que a trilha sonora fica mais alta e é só ela que você escuta… Somente ela!
Era uma telespectadora. Minha história continuava sendo construída a cada passo, assim como a vida daquelas pessoas desconhecidas. Atualmente ainda não tenho uma escrivaninha charmosa, mas mudei de trabalho e, além de atuar num ambiente totalmente cultural, tenho como paisagem um jardim histórico. Um oásis em meio a tanto concreto. Gosto disso pois é mais leve, mais acolhedor, mas descobri que minhas palavras são tão verdadeiras, que podem ser escritas em qualquer mundo e assim como quando se lê, que é possível viajar para qualquer lugar, entendi que escrevendo posso mergulhar para dentro de mim e esse é o lugar mais íntimo que posso conseguir.
“Apoiada em quatro delgadaspernas emprestadas à realidade, ela escuta atenta sob as pontas de meus dedos.
Silêncio esta palavra também cruza sussurrando a página, e aparta os ramos nascidos da palavra “floresta”.
Prontas para o bote, há letras mal-intencionadas de tocaia,garras de orações tão subordinadas que jamais hão de deixar escapar.”
A Alegria de Escrever
Wislawa Szymborska
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