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Escolher ser forte por Clara Barros

Era aniversário do meu marido, quando a Linda chegou na festa com o cabelo diferente e eu comentei que tinha adorado o novo corte. Ela então me chamou num canto e, com um aquele sorriso lindo no rosto, falou: “é uma peruca”. Três segundos de choque… e Linda, com muita serenidade me contou cada detalhe.

Eu já sabia que o que eu passei fisicamente nem chegava perto do que a Linda estava enfrentando. Mesmo assim, quis contar a minha experiência a ela. Porque sempre acreditei que, quando temos exemplos positivos próximos e compartilhamos experiências como essa, as energias e esperanças se renovam.

Alguns anos antes daquele encontro, ansiosa como sempre fui, abri sozinha o resultado do exame: uma punção da tireoide. Estava chegando em casa e não entendi o que significava “carcinoma papilífero”, então liguei para uma prima. Quando eu ouvi que se tratava um tumor maligno, um câncer, as lágrimas nem escorreram, simplesmente pularam dos meus olhos.

Cinco minutos depois, o meu pai chegava com minha mãe recém operada e super sensível. Eu não tinha como contar para eles naquelas circunstâncias. Então, naquele segundo, eu escolhi SER FORTE e inventar uma desculpa para as lágrimas.

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Fui trabalhar. Entrei no piloto automático. Fiquei cinco dias sem contar nada para meus pais, enquanto providenciava tudo com minha madrinha. Queria resolver aquilo logo, “amanhã”, mas não via como ficarmos eu e minha mãe operadas em casa. O médico explicou que, pelo tamanho, o tumor existia há cinco anos, então podia esperar mais um mês.

Assustada e apreensiva, eu não parava de pensar no que eu vinha fazendo da minha vida. Busquei apoio psicológico e a terapeuta disse algo que me marcou profundamente “seu corpo está pedindo socorro”. Ela também explicou que, quando temos alguma doença na região do pescoço, pode ser um sinal de grande concentração de energia, de que não estamos falando, externalizando nossos sentimentos.

Então me toquei que meu namoro, assim como o tumor, tinha cinco anos e tudo começou a fazer um certo sentido. Eu precisava enfrentar a doença, mas também SER FORTE para dar fim a uma relação há tempos falida. Precisava reencontrar comigo mesma.

Eu, que sempre fui preocupada com todos e volta e meia me colocava em segundo plano, precisava parar para prestar atenção em mim, me priorizar. A doença me proporcionou uma grande reflexão sobre mim. Passei a ter uma vontade enorme de dar uma nova direção ao meu futuro.

Logo depois da cirurgia, encontrei a FORÇA para terminar o relacionamento e naturalmente fui dando um outro rumo a minha vida e retomando minha essência. Depois do tratamento, dei novos passos: mudei de emprego, fiz novas amizades, vivi novas experiências, fiz um mochilão, encontrei um amor que me admira pelo que eu sou, me mudei… Eu mudei.

A doença teve uma grande representatividade na mudança que eu precisava promover na minha vida, como uma virada de chave. Ela trouxe marcas físicas e emocionais, aprendizados e conquistas que vão seguir comigo para sempre. E depois dessa e outras provações que cruzaram o meu caminho, tenho a certeza de que, mesmo quando a história não termina como esperamos, sempre existe uma razão de ser.

Esse blog é uma bela demonstração de que a jornada da Linda trouxe um propósito. Acompanhei sua luta contra o câncer entre algumas mensagens e encontros e vi a grande guerreira que ela se tornou, sempre confiante e positiva.Vi também o parceiro maravilhoso que o Caio se mostrou. E quando soube do site e das palestras, meu peito se encheu de orgulho desse casal tão lindo, pois como disse lá no comecinho, acredito muito na FORÇA do compartilhamento e, especialmente, do amor.

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