Enfrentando medos
Nunca gostei de hospital. Desde pequeno. Ok, acredito ser um ambiente que muitos possam ter algum tipo de desconforto, mas no meu caso isso passava para a questão física também. Pressão baixa, sensação de fraqueza era alguns dos sintomas que, muitas vezes, me acometiam estando ali.
Só para ilustrar, uma vez fui com minha mãe acompanhar minha irmã que ia fazer um pequeno procedimento. Algum tempo depois, já via que estava pálido, fui beber água e fiquei sentado (quase deitado) na cadeira até passar ou sair dali. Ou seja, mais atrapalhava do que ajudava.
Essa situação aconteceu há muito tempo, eu era bem menor, mas ainda assim o quadro não era tão melhor. Até a suspeita da Linda e os primeiros procedimentos. Ali, via que a mulher que amava estava em uma situação que poderia ser muito séria e depois se confirmou. Então, completamente focado na cura e ciente da responsabilidade que teria diante disso, convivi e diria que superei essa questão.
Não sou psicólogo e nem tenho a pretensão de dar conselhos nesse tema, mas o fato é que havia ali um cenário muito maior e mais complexo do que meu desconforto em estar num hospital. Portanto, o que precisasse ser feito durante todo o processo, faria em prol de um resultado positivo.
Assim, procurava acompanhar a Linda em tudo que podia. Tinha que conciliar com meu trabalho, mas em grande parte das sessões de quimioterapia e radioterapia, estava lá. Inclusive, há uma história bem engraçada sobre as quimios. Elas foram realizadas no Hospital Universitário do Fundão, no RJ. Trata-se de um hospital público e não havia estrutura para receber acompanhantes dos pacientes, porém, pra mim, era uma agonia ficar ali fora sem poder apoiar a Linda, distrai-la ou tentar alegrar um pouco mais aquele momento que era difícil, física e emocionalmente para ela.
Consegui, pedindo com sinceridade e de coração aberto, às enfermeiras que algumas vezes entrasse na sala. Elas então deixaram e conseguia ficar ali uns 5 minutos vendo minha guerreira em sua batalha. Logo depois era expulso pelas equipe, até então poder ser chamado novamente. Aquilo se tornou uma rotina e quase que uma brincadeira durante a sessão. Agradeço por esses profissionais que conseguem enxergar além das questões práticas e percebem o lado humano que, às vezes, um simples gesto representa.
Como vocês sabem e nós não cansamos de repetir, foram muitos aprendizados absorvidos durante esse período. Talvez um dos mais marcantes para mim seja o fato de conseguir focar em um objetivo maior e não se prender aos obstáculos que, invariavelmente, virão pelo caminho. Vão haver altos e baixos, medos, dias difíceis, imprevistos no percurso de qualquer grande objetivo que a gente queira, mas o modo como encaramos vai ser crucial no que será alcançado. Resiliência. Termo técnico que significa “propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.”
Hoje em dia tão utilizado no meio corporativo, mas, a meu ver, com total razão. Sejamos resilientes.
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