Quimioterapia – Parte I
Quando o dia da primeira quimio chegou, estava confiante e leve. Na verdade, não fazia ideia do que estava por vir. Enquanto me arrumava me olhei no espelho e percebi uma nota de saudades no meu olhar, pelo meu irmão que havia ido embora no dia anterior. Ele tinha vindo ao Brasil assim que soube do meu diagnóstico e sua volta já estava agendada, quando o médico nos avisou da data do início do tratamento, quase não acreditamos que por um dia ele não estaria.
Chegando no hospital fui para o andar da oncologia, pois a partir daquele momento seria acompanhado por duas especialidades, a onco e a mastologia. Passei por uma consulta breve onde verificaram o resultado do meu exame de sangue e logo me encaminharam para uma sala de espera pequena, onde aguardaria a manipulação do meu remédio pela farmácia.
Quando vi enfermeiros entrando e carregando algumas garrafas de soro e outras com um líquido vermelho, suspeitei que seria a minha cura. Logo chamaram pelo meu nome e ao entrar no outro cômodo vi uma sala simples, com duas televisões pequenas e encostada nas paredes poltronas pretas, um pouco rasgadas. As enfermeiras eram alegres, solícitas e me receberam muito bem. Sentei ao lado de uma jovem que usava um gorro azul de lã que protegia sua linda careca. Ela, além do câncer, tinha síndrome de Down.
Enquanto olhava para os meus fios longos e bem pretos, disse: Que cabelo bonito, pena que vai cair todo.
Pensei que tinha sorte por saber “peneirar” as palavras, pois em momento nenhum fiquei triste ou absorvi aquilo, achei engraçado, pois ela falou de um jeito alegre e ingênuo.
Comecei a notar as pessoas que estavam ali e fiquei curiosa pelas suas vidas. Todos éramos diferentes. Jovens, senhores, homens, mulheres, mas em comum compartilhávamos alguns sentimentos. A doença tinha nos escolhido e por algum motivo, naquele instante comecei a ver heróis, guerreiros que estavam ali enfrentando com muita honra esse desafio, quiçá o maior de suas vidas.
O sofá era confortável e enquanto observava tudo a minha volta vi a Fran, a minha amiga do quarto antes da operação, aquela do sorriso largo. Estava um pouco nervosa e notei que chorava. Assim como eu, ela estava aguardando sua primeira dose. Fiquei com vontade de chorar também, pois tudo aquilo não parecia estar fazendo parte da vida real. Em que momento tudo mudou tanto? Quando poderia imaginar que passaríamos por tudo isso?
Queria muito que meus familiares estivessem sentados ao meu lado, mas estavam aguardando do lado de fora. Não podiam entrar. Uma enfermeira sentou na minha frente e me explicou que o remédio cairia em gotas lentas e controladas junto ao soro. Encontrou minha veia facilmente e eu olhando para aquele líquido acima de minha cabeça, pendurado num suporte específico, pude ver as primeiras gotas descendo. Acompanhei a viagem que fazia pela fina mangueira e, como se estivesse em câmera lenta acompanhei ela se aproximando do meu acesso. Rezei para que me salvasse.
Assim que o remédio entrou no meu corpo pude sentir seu ardor em minhas veias e o caminho que fazia ao se espalhar dentro de mim. A sensação começou a tomar conta de minha boca e meu nariz ficou dormente. Chamei alguém que me tranquilizou e disse que era normal, mas pediu para ir reportando o que sentia.
Quando me acostumei com aquele líquido dentro do meu corpo e todas as sensações que me fazia ter, comecei a me distrair com a televisão, afinal o processo duraria em torno de 2 horas. Notei que a Fran estava lendo uma revista. Em alguns momentos nos olhávamos e sorríamos uma para outra e eu me sentia amparada de saber que estávamos lutando juntas.
Queria abraça-la, mas não podia sair dali, estávamos posicionadas em cantos opostos.
Queria aliviar a dor de cada paciente e de seus familiares.
Queria mudar a realidade e avisar a todos que aquilo era apenas um pesadelo e já podiam acordar.
Queria que o câncer jamais existisse!!
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8 Comentários
Selma
Lindo artigo e fiel ao que sentimos. É um retrato perfeito de todo nosso sentimento…
Câncer é terrível, mas graças a Deus, temos o privilégio de nós tratar. Enquanto outros tantos não o tem, isso é triste.
A quimio são as nossa gotas de vida, gotas de cura!!!!
Linda Rojas
É verdade Selma, quimioterapia é cura! Temos que confiar, apesar do mal estar e vislumbrar o final do tratamento. Um beijo grande 🙂
Simone pinto nascimento
É verdade Amiga mais a única certeza que temos é que um dia tudo passa. Graças ao nosso maravilhoso Deus. Temos que ter fé sempre é desistir nunca. Estamos nessa luta juntas.
Linda Rojas
Sim e quando passe pela doença, saber que outras mulheres como eu enfrentavam a doença como guerreiras, me fazia ter mais forças.
Jordânia Rêgo
Lindo texto querida, é maravilhoso podermos ter uma oportunidade de receber as gotinhas de vida…
Nas primeiras vem as lágrimas e a incerteza e com o passar dos dias podemos sentir a presença forte de uma cura.
Deus com sua imensa misericórdia me acolhia sempre com seu amor através dessas gotinhas, e eu durante meu tto sempre compartilhava uma frase ao que gosto muito que diz assim: Isso também passa! ( Chico Xavier).
Bjos a todas!!!
Linda Rojas
Sou muito grata a essas gotinhas e de ter tido acesso ao tratamento. 🙂
Kaka
O cabelo cai, mas cresce, o remedio queima, arde, mas passa. Tenho um tumor no cerebro. Luto ha 2 anos p me livrar dele. Muitas vezes desejei q fosse um pesadelo, desejei acordar, minha vida antes dividida entre trabalho, diversao, viagens, familia,se dividiu entre dias de consulta, dias do remedio, dias dos exames, veias furadas, efeitos colaterais e como conviver com eles. Mas aprendi muito, fiquei mais forte,mais humana, mais capaz de entender a dor do outro e ajudar. Aprendi a ter certeza da cura. Viva cada dia na certeza da sua cura, nunca deixe a tristeza tomar conta. Eu vou encontrar a cura e vc tb. Forca e luz p vc.
Linda Rojas
É verdade! Tudo passa e fica somente a lembrança e aprendizado 😉