Linda Rojas

Amizade

Quando cheguei ao Rio há uns 15 anos, demorei um pouco para fazer amigos. Estava voltando do Chile e considerava que lá a amizade tinha mais valor e acabava não confiando muito em ninguém por aqui. Colegas eu tinha uns tantos e, de fato, nunca estava desacompanhada, mas sabia que aquilo não era ainda o que eu estava esperando para chamar alguém de “amigo”.

Quando passamos por situações limites é um bom momento para perceber quem estará ali do seu lado e apoiará independente de tudo. Tenho carinho, consideração e amor por um bocado de gente que sei que me quer bem, mas depois que tive câncer confesso que alguns sumiram, ou pessoas que pensei que iriam se aproximar, não o fizeram.

Sempre imagino aquele tumor como algo que remetem “coisas” amarradas em minha rotina e sinto que quando o retiraram houve também uma limpeza em vários aspectos de minha vida. Sobre a amizade a mesma coisa, ficaram os poucos e bons.

Sabe aquelas obrigações que o mundo te coloca? Tais como: estudar o que traz dinheiro e não o que você gosta, deixar seu sentimento de lado porque afinal o que importa é o racional ou manter ao seu lado pessoas que não acrescentam muita coisa? Definitivamente depois de passar pelo que vivi, sinto como se fosse liberta de todas essas convenções às quais muitos ficamos presos e não percebemos.

Olhar para o essencial da vida, notar os pequenos sons da natureza ou os sabores das comidas e, de repente, você repara que respirar é maravilhoso e você se pega sorrindo somente ao sentir o vento mexendo seus cabelos.

Além de notar e valorizar momentos que antes passariam totalmente despercebidos, também me foi mostrado com clareza os meus verdadeiros amigos.

Amigos como a Luana Feitoza, que levava flores ao voltar da quimioterapia e simplesmente ficava sentada na poltrona ao lado da minha cama sem dizer nada, pois entendia que não estava bem e só queria estar em silêncio e quando o mal estar explodia eu levantava correndo para vomitar, mas logo me recompunha e voltava a deitar aproveitando os próximos minutos de trégua, já que sabia que em pouco tempo o próximo enjoo viria.

Mesmo deixando o quarto escuro e estando coberta completamente, sabia que ela estava ali do lado, sentada esperando eu precisar de um gole de água de coco ou de alguma ajuda para levantar.

Saber que ela estava ali me tranquilizava. Muitas das vezes me senti ingrata por não conversar tanto ou por virar para o outro lado da cama, mas ela não se importava, entendia como estava me sentindo. Estava ali comigo, sendo solidária, fiel, me apoiando no momento mais difícil de minha vida. Sou grata a ela e aos outros amigos que ela, neste texto, simbolicamente representou.

Pois assim como ela, minha família e eu recebemos muito apoio, ajuda e força de pessoas às quais hoje sim posso chamá-los de verdadeiros amigos.

Luana e eu ainda em tratamento :)
Luana e eu ainda em tratamento 🙂

 

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6 Comentários

  • Bruna

    Lindas! Lindo! Como me sinto feliz em ler isso. Como me sinto feliz em ter sido marcada nesse texto. Amizade é tudo! Verdadeira então é melhor ainda. Eu sempre estarei aqui ao seu lado amiguinha. Vc esta um sucesso com esse blog! E eu te desejo mais ainda todos os dias. Vc merece!

    • Linda Rojas

      É nesse momento que sabemos com quem contar.
      Encontrei diferentes reações de pessoas queridas e entendi todas elas. Encontrei aqueles que eu sabia que estavam ali, mesmo não vendo toda hora, havia aqueles que estavam toda hora, aqueles que não falavam muito… só sei que é impressionante como como sentia quando era verdadeiro ou não. Ganhei essa sensibilidade com a doença 😉

  • Luana

    Emocionada com o texto, mas as minhas lágrimas são de pura felicidade pois tenho a melhor amiga do mundo. Estarei sempre ao seu lado, no fundo sabemos o que é amizade de verdade, te amo!!!❣❣❣

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