Saindo da caverna

Há um tempo sentia que já tinha passado pela pior fase da minha vida. Pensava que depois de ter tido câncer aos 24 anos, a vida só me reservaria encantos e ainda que enfrentasse algumas dificuldades, já que isso era óbvio, pois não era completamente iludida, mas sabia que nada seria tão terrível quanto ao que vivi há 5 anos.

Quando casei, agora em maio, e comecei a morar na nossa casa com o Caio, todo dia, quando fazíamos a nossa tradicional dancinha na porta quando um ou o outro chegava, pensava: “Pqp, não é possível que eu seja tão feliz assim!!”

Vocês têm ideia do que é ter felicidade TODOS os dias? Gente, tô falando de felicidade PURA, daquela da boa e eu!? Eu tava recebendo essa dádiva todos os santos dias!!

No momento que começaram as suspeitas de um novo nódulo eu me senti invadida por um medo terrível, um pânico em ver aquilo virando realidade. A cada exame o pavor de me ver vivendo meu pior pesadelo era tão doloroso que acreditava que, por isso, essa crueldade não poderia acontecer duas vezes comigo. Tinha uma esperança que se confundia com as súplicas da minha alma.

Saber que aquilo tinha se confirmado foi como se tivessem me apunhalado pelas costas. Senti tanta dor, tanta dor, mas tanta dor que era impossível que aquilo não me encontrasse mais frágil. Nunca sofri tanto! Chorei como jamais chorei em toda minha existência e percebam, não foi somente no início, mas como em muitos momentos até agora.

O sentimento era de entrar numa prisão com tudo o que você mais teme e ser torturada dias e mais dias. Parece que foi rápido o processo todo desta vez, mas amigos, pra quem está sendo torturado os dias parecem infinitos. A sensação de não ter o que fazer, de não ter escapatória, não ter outra opção a não ser passar sim por tudo é enlouquecedora.

A maior parte dos dias eu encaro bem, claro, na medida do possível. Descobri em meio a tudo isso que se passava que ainda tinha conseguido manter as armas da vitória anterior e o melhor, descobri algumas outras. Não deixei de notar as minhas qualidades e habilidades, embora num embate desses seja comum perder a visão.

Consigo em meio ao caos me inclinar sempre para tudo de bom e positivo que me acontece e, isso com certeza me manteve de pé. Me sentia num labirinto, mas sempre focada na saída, mesmo não sabendo onde ela estava. Sabia que existia!

Hoje, fiz minha última quimio e não consigo explicar o que se passa aqui dentro. Meus olhos estão úmidos há horas, a emoção que está aqui dentro é complicado definir. Estou saindo da caverna, estou visualizando o mundo. Ainda estou machucada, posso ver as marcas, mas esse mundo que está diante de mim não é mais como me lembrava. Ele é maior, mais bonito. Quando olho pro céu, meus olhos doem, ainda estão se acostumando com a luz, mas consigo perceber que nunca vi um azul tão lindo. Respirar ar puro nunca foi tão gratificante e sentir o ar batendo na pele é como se fosse a vida me acariciando.

Entendo que ao me deparar com toda essa VIDA, também encaro uma porção de possibilidades. Minha primeira decisão é continuar sendo grata, pois não teria como não ser. Apesar de ter passado pela maior prova que poderia, com todas as suas dores, sabe aquela FELICIDADE da dancinha com o Caio do final do dia? Consegui senti-la sempre!!

Encontrar esta nova vida ainda é muito recente, é muito cedo para entender o porquê de tudo, mas já pude compreender um grande aprendizado: se da outra vez meus olhos viram a grandeza do universo, hoje entendo a grandeza do ser humano. Olhar para dentro de nós e cuidar da nossa alma é essencial.

Minha mensagem não pode ser outra: todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

Se consegui ser feliz com essa pedra no sapato, imagina agora!! E sobre minhas outras possibilidades? Posso decidir por todas elas 😉

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